domingo, 18 de maio de 2008

Duendes Desenhadores

I

Ele era mais aves.
E a cada canção,
sabia as cores e a forma
de quem as cantava.
Sabia ainda o que dizia,
se gritava de alerta,
se com a voz enamorada.
Tanto as conhecia
que ao desenhar uma fraga,
pelos tons da rocha
pela minúcia da estrada,
adivinhava os ninhos
os locais de repouso
residências de Invernada.

Ela era mais flores.
Adivinhava o movimento
da pétala amarrotada
que ao sol primaveril
se desenrola, luzidia, lavada.
E aos musgos segredava
segredos colhidos da água,
palavras parávam o tempo,
e ela, calma, no papel
imortalizava
o vento, o musgo,
as águas,
tudo pára,
os esporos nas coifas,
os gâmetas na água,
para que ela os desenhe
mão – grafite – deusa sussurrada.

Quando imortal o desenho surge,
retorna a brisa,
cada passo à sua estrada.

II

Todos eram a luz
que passa
e que inventa
a cada momento
nova paisagem.

Como se houvesse
que criar
distinta rapidez
ao desenhar.

Para cada luz
seu jogo de nuvens
outro sol descobre
sob a pedra uma passagem.

Aguça o mistério,
parda assim, a luz.
Espicaça o engenho
de quem desenha,
que sem o saber
está a deslindar
o segredo das sombras
o feitiço do olhar.

III

Vem o sol
e pelos raios de luz
descem os Duendes da Cor.
Cada um um tom
cada um um reflexo,
uma alegria,
acendem a ave, a flor,
a pedra, a cortiça,
a lagartixa luzidia.

Acorda o torpor
do sempre igual pardo terror,
todas as árvores do mesmo verde
cada orquídea cinza
na sua paixão dormente,
sem perfume,
sem a aura do amor,
morta para a abelha,
que passa, alheia,
sem saber que sombrio
o seu destino
pardo repousa.

Vem a luz
e com o sol
os Duendes da Cor.
E a orquídea que jazia
num pranto pardacento
acorda para ser amada.
Grita lilás!
E grita amarela, dourada!

Brilham os perfumes,
acordam os sons das asas,
fundem-se, orquídea e abelha,
enamoradas.
E segue o ciclo da vida
pelos duendes do sol renovada.

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