O senhor de sandálias, chapéu branco, guarda-sol às riscas e toalha de banho ao ombro tenta desesperadamente abrir o fecho da mochila. Pára junto ao limite da rebentação. Coloca tudo no chão e despe a camisola.
Da mochila retira uma bóia amarela em forma de flor, que enche e coloca nas ondas. Fica com a água pelos joelhos e com o olhar suspenso nas pétalas flutuantes.
O mar é um lago de contínuos tons de anil, o azul só ao fundo se define. Uma alga de mil filamentos castanhos incorpora a areia molhada e quase desaparece. Os pequenos seixos rolados salteados pela maré coreografam o único movimento que assiste a este olhar.
O vento volteia nos panos dos guarda-sóis mas já não produz trinados. Redemoinha, mudo, entre os ombros do homem.
De súbito avista-se um veleiro de dois mastros. Avança rapidamente para a praia. A bóia amarela avança em direcção ao horizonte e o veleiro vem do horizonte. Aproximam-se.
Uma mulher salta da amurada e nada para a bóia. O homem mergulha e nada esguio na água. Até à bóia.
Encontram-se. Abraçam-se.
Já na praia montam o grande guarda-sol de listas. A alga sacode-se. Rebolam abraçados na toalha de veludo. O vento trina suavemente no riso louro da mulher.
O mar salteia as pedras roladas na areia, agora também com búzios e conchas nacaradas que ela apanha e coloca sobre a bóia amarela:
- Era o pólen que faltava.
Sem comentários:
Enviar um comentário