A doçura é a moeda que tenho sobre o capot do meu "Dois Cavalos" vermelho.
Saio da Biblioteca e dirijo-me para o carro. O menino negro surge, não sei de onde, e diz:
- Dá-me uma moeda ou parto-te o carro à pedrada.
Invadem-me sentimentos vindos de todos os quadrantes. A doçura é um frasco vazio e sem tampa.
Que belo é! Parece ter sete ou oito anos, porém já com o olhar duro de um adolescente revoltado. Coça a carapinha e tem brilhos rápidos nos olhos.
-Eu não te fiz mal para me ameaçares e não tenho dinheiro para ti.
-Dá-me uma moeda ou parto-te o carro...
-Já te disse que sou pobre.
Lento, o meu companheiro aproxima-se de mim; sinto o seu calor, o aveludado da sua pele.Os seus olhos são rajadas de injustiças.
Está mais alto porque eleva e empurra para trás os ombros e puxa a cabeça hirta para a frente.
-És rica. Tens um casaco de pele... E tens este carro. Quanto vale este carro?
-É barato. Foi a minha mãe que mo deu; está velho, vês?
E rodámos, com a minha mão e a dele juntas, o espelho retrovisor, desaparafusado.
Doçura é uma colecção de silêncios.
-Olha, digo eu, nasci em Angola...
-Tu deves ser cigana, com essa saia...
E acaricia a minha saia de lã vermelha, com pregas.
-Porque não vais à escola?
-As escolas são dos ricos.
Agora o meu menino tem no olhar a doçura de um quadro negro onde começam a raiar riscos multicolores.
Quando, por fim, lhe estendo a moeda, olha-me fixamente nos olhos:
- Eu sou teu amigo.
Pega nela e coloca-a sobre o capot do meu "Dois Cavalos" vermelho.
Pisca-me o olho e dirige-se para outro carro que acaba de estacionar.
Saio da Biblioteca e dirijo-me para o carro. O menino negro surge, não sei de onde, e diz:
- Dá-me uma moeda ou parto-te o carro à pedrada.
Invadem-me sentimentos vindos de todos os quadrantes. A doçura é um frasco vazio e sem tampa.
Que belo é! Parece ter sete ou oito anos, porém já com o olhar duro de um adolescente revoltado. Coça a carapinha e tem brilhos rápidos nos olhos.
-Eu não te fiz mal para me ameaçares e não tenho dinheiro para ti.
-Dá-me uma moeda ou parto-te o carro...
-Já te disse que sou pobre.
Lento, o meu companheiro aproxima-se de mim; sinto o seu calor, o aveludado da sua pele.Os seus olhos são rajadas de injustiças.
Está mais alto porque eleva e empurra para trás os ombros e puxa a cabeça hirta para a frente.
-És rica. Tens um casaco de pele... E tens este carro. Quanto vale este carro?
-É barato. Foi a minha mãe que mo deu; está velho, vês?
E rodámos, com a minha mão e a dele juntas, o espelho retrovisor, desaparafusado.
Doçura é uma colecção de silêncios.
-Olha, digo eu, nasci em Angola...
-Tu deves ser cigana, com essa saia...
E acaricia a minha saia de lã vermelha, com pregas.
-Porque não vais à escola?
-As escolas são dos ricos.
Agora o meu menino tem no olhar a doçura de um quadro negro onde começam a raiar riscos multicolores.
Quando, por fim, lhe estendo a moeda, olha-me fixamente nos olhos:
- Eu sou teu amigo.
Pega nela e coloca-a sobre o capot do meu "Dois Cavalos" vermelho.
Pisca-me o olho e dirige-se para outro carro que acaba de estacionar.
Sem comentários:
Enviar um comentário