Toda a vida o Sr José António Varejo, chegado o Inverno, calcorreia as encostas da serra de Monchique para apanhar medronho. Tem os frutos dentro de um barril, primeiro vermelhos, depois cada vez mais pálidos conforme o tempo passa e a fermentação se acentua.
Nos dias de nevoeiro, quando os montes desaparecem dentro das nuvens empurradas pelo vento sueste, sobe ao sobrado da casa de taipa, desce o velho alambique do avô Jeremias Barbeiro, ateia o fogo de sobro e destila. O vapor passa na serpentina arrefecida pela água do grande tanque. Do fundo soltam-se sons de pingos a cair: é a aguardente a nascer.
A harmonia é o líquido transparente, coado, que enche devagar as garrafas de vidro sobre a banca.
Jacinta do Carmo, Varejo pelo casamento, coze pão de lenha. Tem um forno em pedra à entrada da sua casa e amassa numa bacia baixa de barro. De tanto torcer a massa, alisá-la, puxá-la ao centro, já são os braços sozinhos que se entendem com a farinha e o fermento. E também com o sal e a água, tal como quando o vento revolve as ondas no mar lá ao longe.
A harmonia é o crepitar da lenha sob o tecto curvo e negro do forno do pão.
Entre o medronho dele e o pão dela, o atado de chouriças que ela faz do porco criado por ambos, a dúzia diária de ovos das galinhas pedrês, o braçado de hortaliças e os cestos de fruta que vendem no mercado, compõem a economia familiar. Os Varejo subsistem sozinhos, são o que resta de uma comunidade de onze famílias da aldeia do Brejo.
Até que um dia apareceram senhores desconhecidos a bater à porta. Eram da Inspecção.
Foram dizendo que o alambique tinha chumbo e que todo o equipamento da destilaria e do forno deveria ser substituído por aço inox, ao que o Sr José António respondeu que nunca tinha ouvido falar de tais procedimentos, nem percebia muito bem o que fazia mal à saúde, se estava todo limpinho. Sempre tinha visto fazer assim.
Os tais senhores confiscaram 100 garrafas de medronho ao Sr José.
Os tais senhores selaram o forno à Dona Jacinta.
A interioridade é um forno sem lenha.
A desertificação é uma serra vermelha de bagas de medronho por apanhar.
Nos dias de nevoeiro, quando os montes desaparecem dentro das nuvens empurradas pelo vento sueste, sobe ao sobrado da casa de taipa, desce o velho alambique do avô Jeremias Barbeiro, ateia o fogo de sobro e destila. O vapor passa na serpentina arrefecida pela água do grande tanque. Do fundo soltam-se sons de pingos a cair: é a aguardente a nascer.
A harmonia é o líquido transparente, coado, que enche devagar as garrafas de vidro sobre a banca.
Jacinta do Carmo, Varejo pelo casamento, coze pão de lenha. Tem um forno em pedra à entrada da sua casa e amassa numa bacia baixa de barro. De tanto torcer a massa, alisá-la, puxá-la ao centro, já são os braços sozinhos que se entendem com a farinha e o fermento. E também com o sal e a água, tal como quando o vento revolve as ondas no mar lá ao longe.
A harmonia é o crepitar da lenha sob o tecto curvo e negro do forno do pão.
Entre o medronho dele e o pão dela, o atado de chouriças que ela faz do porco criado por ambos, a dúzia diária de ovos das galinhas pedrês, o braçado de hortaliças e os cestos de fruta que vendem no mercado, compõem a economia familiar. Os Varejo subsistem sozinhos, são o que resta de uma comunidade de onze famílias da aldeia do Brejo.
Até que um dia apareceram senhores desconhecidos a bater à porta. Eram da Inspecção.
Foram dizendo que o alambique tinha chumbo e que todo o equipamento da destilaria e do forno deveria ser substituído por aço inox, ao que o Sr José António respondeu que nunca tinha ouvido falar de tais procedimentos, nem percebia muito bem o que fazia mal à saúde, se estava todo limpinho. Sempre tinha visto fazer assim.
Os tais senhores confiscaram 100 garrafas de medronho ao Sr José.
Os tais senhores selaram o forno à Dona Jacinta.
A interioridade é um forno sem lenha.
A desertificação é uma serra vermelha de bagas de medronho por apanhar.
Sem comentários:
Enviar um comentário