domingo, 20 de julho de 2008

O Maior Puzzle do Mundo


O Mago P.M.C. Zóico mora no fundo do mar e adora formar puzzles. Até a casa onde mora é feita de pedaços de rocha que ele encaixou umas nas outras.
Há já uns dias que tem andado a matutar numa ideia: construir o maior puzzle do mundo com os dois super – continentes do Reino Paleo. Por isso pediu à Medusa Xis que usasse os seus sinais fosforescentes para convocar todos os habitantes das profundezas.

De todos os quadrantes oceânicos começaram logo a chegar tidões rolantes de criaturas bizaráticas com os olhos fixiriosos no Mago P.M.C. Zóico.
As trilobites abriram alas e o Mago disse:
- Caros amigos: vou fazer o maior puzzle do mundo.
As medusas perguntaram desconfiadas:
– Como vais fazer isso? E olharam-no tão próximo, que o Mago Zóico sentiu o movimento subtil da água que formava o seu corpo transparente.
- Com a ajuda do Nuteixo, vou juntar Laurásia e Gondwana num único super - continente.
Os crinóides sentiram um arrepio enorme de tiritedo.
– Assim o mar entre Laurásia e Gondwana desaparece… E depois para onde vamos viver?

Mas o Mago não respondeu, estava concentrado na magia (tinha substituído a varinha mágica por um moderno Nuteixo e ainda não dominava muito bem a técnica). Activou a âncora – mágica dando-lhe brilho com algas – vermelhas e ia dizer as palavras encantadas. Esbracejou profusamente, abriu a boca … mas não saiu som. Esquecera-se da fórmula.

Entretanto, já os animais se retiravam, num grande burburinho, a pensar quais as mudanças necessárias para o caso da magia resultar e deixarem de viver dentro de água.
Sozinho, o Mago Zóico voltou a pegar no Nuteixo, elevou a cabeça, e com movimentos redondos no ar, improvisou e disse:

- Oh Nuteixo giganbolante!
cria um puzzle gigante,
dobra as rochas
como papeis empilhados,
aproxima os continentes
sem ficarmos esmagados!

Assim que acaba de proferir estas palavras, há um tremor de terra acompanhado de um rugido cavernoso. Só por sorte é que Dona Grauva Bites não ficou emparedada pelas rochas às listas x e g da sua casa!

Os animais desataram num corrupio, perdidos, para a frente e para trás:
- Socorro! Vem aí o fim da Era! Vai acabar o mundo!
O Mago, atrapalhado de todo, só pensava:
– Mas onde foi que eu me enganei??!!

E enquanto ribombavam terramotos sob os seus pés, disse as palavras mágicas ao contrário para anular o feitiço:

- sodagamse somracif mes
setnenitnoc so amixorpa
sodalhipme isepap omoc
sachor sa arbod
etnagig elzzup mu airc
etnalobnagig Oxietun ó

Mas a rocha continuava a partir-se.
Nisto, chega da superfície uma goniatite – mensageira:
- Os continentes estão a aproximar-se muito depressa. Salve-se quem puder!
O Mago estava desesperado. Resolveu ter calma e sentar-se a olhar para o Nuteixo. Mas teve de se levantar porque ficou com o rabo a arder! Que calor impressionante! E olhou para a rocha onde se tinha sentado: parecia plasticina, estava a dobrar devagar. Mas de repente ouve um crrack e… partiu-se em mil bocadinhos.

Foi quando o Mago percebeu: se as rochas do fundo do mar fossem empurradas com calma, podiam dobrar, em vez de se partirem todas! A magia estava a acontecer muito depressa....

Teria de retardar o tempo! Nada mais fácil para quem tem um Nuteixo. E desenhou no ar vários oitos ao contrário… o sinal esperado pelo Nuteixo para dilatar o tempo. Então a âncora - mágica vaidosou-se e encheu-se de ilumintensas cores enquanto tornava lentilongos os dias e os anos.

A partir daquele momento Laurásia e Gondwana começaram a progredir muito devagar na sua rota de colisão. Enrugaram o fundo do mar até que se juntaram. Agora só havia um único continente. O puzzle estava concluído.

Porém, mesmo depois de unidos, continuaram a avançar um em direcção ao outro, dobrando-se e subindo em múltiplas curvas. Foi assim que nasceu uma Montanha como uma enorme cicatriz enrugada. Cada dia mais alta, cada dia mais alta…até que Laurásia e Gondwana pararam.

O Mago caminhou muito tempo pelo continente único, rodeado de mar e atravessado a meio pela Montanha mais alta de todos os tempos. À montanha chamou Hercínica. Ao continente chamou Pangea, o seu mais belo puzzle.

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