quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Chuva de Nuteixo



O Mago P.M.C. Zóico vivia numa planície muito, muito quente, no início do Reino Meso. Adorava Hercínica, a montanha mais alta de todos os tempos, que avistava ao longe, através da janela maior da sua casa.

Os animais que habitavam o centro do continente único iam visitá-lo com frequência para pedir chuva. Mas como o Mago adorava calor, só mesmo quando o solo do deserto começou a gretar é que resolveu atender aos pedidos.

O Mago P.M.C. Zóico tinha uma âncora mágica que controlava a chuva: o Nuteixo. Bastava pegar nele, dizer as palavras certas e abria-se o chuveiro das nuvens. Mas acontece que já tinha passado muito tempo desde que fizera o último curso de actualização de feitiços e não se lembrava muito bem da fórmula encantada. Por outro lado, o Nuteixo estava ainda em fase de experimentação como substituto da velha varinha mágica.
Mas mesmo assim decidiu experimentar:

“Ussuruputu, Ussuruputu
Nuteixo lindú, Nuteixo lindú
Chuvinha, Chuvinha
Chuvinha me dás tu”

Mal acabou de dizer a última palavra começou a chover.
- Fantástico!! Disse o Mago, assarapantado com o seu feito.
Foi uma festa, os dinossáurios levaram-no em ombros… Todos os animais do reino Meso cantaram e dançaram durante três dias e três noites.
Quando já chegava, o mágico disse ao Nuteixo para fechar a torneira celeste. Mas ele não parou e verteu água durante 64 anos.

Quando caiu a última pinga, os animais, escorrendo – pingando, apresentaram-se ao Mago, furibundos… e o Mago prometeu-lhes que para a próxima iria estudar melhor os passos da magia.
Mas o que o deixou realmente triste foi olhar para a sua tão amada montanha Hercínica e vê-la mais pequena. Os picos mais altos tinham sido desgastados pela força das torrentes. A Montanha corria liquefeita, transportada pelos rios e depositada nos vales.

Os dias passaram e voltou a ficar um calor infernal. E repetiu-se o mesmo, o Mago pediu chuva ao Nuteixo (mas cautelarinho, com uma nova dosagem, para ver se não chovia durante tanto tempo):

- ziringundonastro, ziringundoneu
faz cair, Nuteixo, Nuteixo
alguma chuva
(só mesmo alguma)
lá do céu

ziringundoneu, ziringundonastro
faz cair, Nuteixo, Nuteixo
alguma chuva
(só mesmo alguma)
lá do astro

Mas veio um dilúvio. A chuva só parou anos depois, a montanha ficou ainda mais baixa e os vales acumularam ainda mais areia. E isto sucedeu vezes sem conta, chuva, calor, chuva, calor, chuva… O Mago experimentou todas as palavras mágicas que sabia, até que resolveu ir a um novo curso de actualização aprender os termos certos para experimentar no Nuteixo.

Quando voltou… bem, quando voltou já tinha parado de chover mas também já não havia montanha. O desmantelar de Hercínica dera lugar, com o passar dos anos, a uma rocha vermelha acumulada nos vales.

A essa rocha, feita dos grãos de areia filhos de Hercínica, o Mago chamou grés. E podia contemplar toda a paisagem de grés a partir de qualquer janela da sua casa.
Estava radiante: afinal, não é qualquer mago que vive num reino de vales vermelhos. E viver num reino de vales vermelhos é um espanto!

1 comentário:

wal disse...

estou a trabalhar num projecto integrado na acção de formação que tem por base os "Contos do Mago" Deparei com a palavra "Nuteixo" e uma questão se levantou: criação sua que remete para algum conceito da Geologia, ou de outra ciência?

Miguel