terça-feira, 19 de agosto de 2008

O Caso do Oceano Remendado



O Mago P. M. C. Zóico está cheio de ideias fervilhantes. Acabou de chegar do Curso de Feitiços onde aprendeu novos truques que quer aplicar com o Nuteixo, a sua âncora mágica. Mas há um em especial que não lhe sai da cabeça: criar um oceano.

Criar um bom oceano é uma das mágicas mais complicadas que um Mago pode fazer. E se ele quer chegar a Rei dos Magos tem de o conseguir. Na verdade, ainda não domina completamente a técnica, mas mesmo assim vai tentar.

Pediu ao ornitogea de olhos quartzo para emitir o chamamento geral. Assim que a ave cantou, irrompeu um frenesi em toda a extensão do deserto vermelho. Nuvens de pó cresciam na direcção da casa do Mago. Sons de milhares de patas caminhavam apressados para ali. Das tocas saíram dinossáurios de todos os tamanhos; vermes desenterravam-se da areia; aves gigantes naviavam pelos ares. Multiplicavam-se os seres mais estrambólicos no calor que irradiava do chão.

Em poucos minutos colocaram-se num círculo, fixos de sorriso e de olhar. E o tempo suspensou. Possidónias abriram solenes alas. E o Mago disse:
- Caros amigos: vou oferecer ao Reino Meso um oceano.
E o vento enfunou o seu manto de penas grisantinas.
- Que bom! Que bom! Que bom! disseram os animais num burburinho.
- Vamos viver de novo para o mar!
- Assim já podemos refrescar-nos sem ter de esperar pela chuva!
- Assim já usamos as nossas conchas para surfar nas ondas!

E retiraram-se. Iam preparar as coisas para viver no litoral. Estavam com tanta pressa que o Mago nem teve tempo para lhes comunicar que poderia vir a precisar da ajuda deles, já que era a primeira vez que experimentava uma magia de um grau de dificuldade tão elevado…

Sozinho, concentrou-se e recapitulou a ordem dos sortilégios:
1º - fracturava as rochas bem no centro de Pangea, o continente único
2º - caíam as rochas ao longo destas fracturas, formando riftes
3º - o mar entrava para ocupar os vales formados …
e ficava com um oceano novinho em folha mesmo à porta de casa.

Olhou fixamente para o Nuteixo, moveu três vezes os braços de baixo para cima e disse:
- Nuteixo, Nuteixo
Zerpilofó, Zerpilofá
Partir o continente
Ao centro, ao centro
E entrar o mar
É p´ra já, é p´ra já!

Nisto, um estremeção. E outro tão forte que abriu um vulcão no grés. As Turritelas surgiram num corrupio, perdidas, para a frente e para trás
- Socorro! Socorro! Vem aí o fim do mundo!

Fracturava-se num ribombar todo o reino Meso. Não era só o centro, mas toda a extensão de Pangea! O mágico tinha exagerado! Naquele ritmo a terra afundava-se num instante e o planeta passava a ser apenas de água. Aflito, com o Nuteixo em riste, o Mago Zóico experimentou repetir a magia dizendo zerpilofé em vez de zerpilofó e zerpilofi em vez de zerpilofá… mas nada!!

Os dias eram passados a abanabalar e em qualquer momento um jorro de lava irrompia do chão. Até houve uns pólipos que montaram um negócio de apostas sobre o próximo local onde iria surgir um rio de pedra fundida.

Até que o Mago teve uma ideia: as fendas da periferia de Pangea poderiam ser fechadas com a ajuda de todos os animais do reino Meso. Era preciso cozer os rasgos laterais e deixar ficar apenas os do meio do continente.

E foi então que, uma vez mais, pediu ao ornitogea de olhos quartzo que emitisse o chamamento geral, e os animais vieram, saltando rios de lava e tempestades de fumos. Organizaram-se por famílias, e dentro em pouco, por mais rasgos que nascessem na bordadura de Pangea, mãos labiridosas reparavam os danos.

Batalhões de amonites bombeavam para fora a água do mar que entrava terra adentro. Enchiam as câmaras enroladas das suas conchas e borrifavam o ar. O Reino Meso estava transformado num enorme chuveiro. Dominavam como nenhum outro animal a técnica de flutuar a diferentes profundidades: eram elas que desciam às zonas mais profundas lideradas por Nino Surfonite.

Os dinossáurios mais fortes colocavam-se de um e do outro lado de rifts indesejáveis. Davam as mãos, fincavam os pés, puxavam as costas para trás e apertavam, apertavam... Fenda que eles tivessem debaixo d'olho nunca se abria! Nem permitiam qualquer movimento às falhas transformantes.

Multiplicavam-se famílias inteiras de Corais Hexagonais que remendavam os rasgões de Pangea. Construíram recifes que impediam o mar de galgar colinas, e se entrava um bocadinho, logo as lagunas evaporavam ao sol.

E o Oceano nasceu. Atlântico de seu nome. Abriu-se primeiro a norte, depois a sul. Apesar de ser ainda um mar muito novo, era como todos os bebés, cheio de energia. Por isso fartava-se de estrebuchar.

2 comentários:

nadine disse...

muito fixe a estoria
=)

=]

"""" =muito cul """""

Anónimo disse...

esta historia foi lida na minha escola